Terça-feira, 19 de Fevereiro de 2008

Carros movidos a algas

Quem sabe se temos aqui um negocio de futuro para a nosso alentejo.

Carros movidos a algas
14.02.2008
, Inês Santinhos Gonçalves

Numa época em que as preocupações ambientais estão em alta, também Portugal se juntou à corrida aos biocombustíveis. Até 2010 pretende ter dez por cento de combustíveis verdes. E uma boa parte desta percentagem poderá ser, literalmente, verde. Quem o diz é o Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI), um dos maiores centros de investigação no campo das energias renováveis em Portugal e que estuda microalgas como forma de substituto do gasóleo.

No campo dos biocombustíveis, as algas parecem surgir como a opção menos polémica, já que quase não reúnem desvantagens: não competem com as culturas agrícolas destinadas à alimentação (e por isso não fazem o preço dos alimentos subir), crescem muito rápido e podem ser colhidas todos os dias (ao contrário de outras culturas, que estão dependentes da sazonalidade), precisam de pouco mais que água e luz para se desenvolverem (podem crescer em água salobra, salgada ou até águas residuais) e geram muito mais óleo por hectare que qualquer outro vegetal.

Serão o biocombustível perfeito? Luísa Gouveia e Fernanda Rosa, investigadoras do departamento de energias renováveis do INETI, situado em Lisboa, consideram que as microalgas são um projecto "com pernas para andar no país". O instituto está já na fase da transferência tecnológica para as empresas e assim carros movidos a algas a circularem nas ruas em Portugal são uma esperança.

Esse seria o último passo de um longo processo para o qual têm trabalhado: "Não há razão nenhuma para que não aconteça", diz Fernanda Rosa, mas não será a curto prazo.

Porquê? A resposta é simples: é ainda uma tecnologia "cara ", esclarece Luísa Gouveia. As algas, que só agora começam a sair da esfera da investigação, competem com outras oleaginosas que já estão enraizadas no mercado há muitos anos e que contam com uma grande extensão de hectares cultivados. "Há culturas de girassol de 10 mil hectares, enquanto de algas há cerca de 50."

O momento das algas

Esta, contudo, parece ser a altura certa para a expansão das microalgas. A subida em flecha das outras matérias-primas torna-as um bom negócio - o trigo atingiu esta semana o seu preço máximo histórico. "Até agora, quase tudo o que se fazia de microalgas a nível empresarial era com outras finalidades", explica Fernanda Rosa, referindo-se às variadas potencialidades das algas, como a extracção de pigmentos e a alimentação humana e animal.

As próprias petrolíferas podem obter benefícios no cultivo de microalgas, agora que serão obrigadas a introduzir dez por cento de biocombustível na gasolina e no gasóleo: "Tendo a obrigatoriedade de produzir biocombustíveis na mistura que distribuem, as petrolíferas têm toda a vantagem em arranjar eles próprias matéria-prima. Eles também podem lucrar com isto", explica Fernanda Rosa.

Na família das algas, há versões para todos os gostos, algumas muito ricas em substâncias valiosas, como pigmentos ou lípidos polinsaturados; há algas que crescem no escuro, em água muito salgada, em temperaturas extremas. Há algas nas poças, no mar, nas lagoas. Vermelhas, castanhas, verdes, amarelas.

Existem entre 20 a 30 mil espécies de algas no mundo, mas apenas cerca de 50 já foram estudadas e apenas cerca de dez são produzidas industrialmente, para variados fins. Destas, só quatro ou cinco podem gerar um bom biodiesel. Para que seja rentável, as microalgas precisam de ter os indicadores de síntese de lípidos altos.

O longo processo de investigação do INETI, que já vem dos anos 70, começou com a Botryococcus brauni, uma microalga que sintetizava hidrocarbonetos muito semelhantes aos do petróleo. Desde essa altura, muito óleo correu debaixo da ponte do estudo do biodiesel.

O INETI não revela quais as algas que estuda para biodiesel. Mas diariamente trabalha para aperfeiçoar as suas qualidades: são alimentadas, medidas, agitadas, etiquetadas. Crescem em fotobioreactores, onde podem ser monitorizadas e não correm risco de "contaminação".

O processo de cultivo é simples e barato: "Porque só é preciso água, que pode até nem ter grande qualidade. Junta-se um inoculozinho, uns sais - uma espécie de adubo com uma fonte de azoto - e depois um bocadinho de fósforo. Sol ou luz e aquilo até cresce muito facilmente. Mas depois temos um grande volume de água que tem pouca biomassa." É aqui que está a dificuldade das algas, na colheita. "É isso que gasta energia", explica Luísa Gouveia.

Se cultivar microalgas é fácil e barato, transformá-las em combustível ainda custa muito dinheiro. O primeiro passo é concentrá-las. "É preciso concentrá-las para depois, então, extrair o óleo", explica Fernanda Rosa.

Um dos processos de concentração é a centrifugação, ainda muito dispendiosa. Uma hipótese que está a ser estudada é a utilização de floculantes, um agente químico que faz com que as microalgas se agrupem em pequenos flocos, reduzindo o conjunto a uma papa. "Estas são as questões que estão a ser optimizadas" explica Fernanda Rosa.

Chega-se, finalmente, à extracção do óleo, que nas algas é gerado em bastante quantidade. A partir daqui, o processo de transformação em biodiesel é igual ao que se faz com o óleo proveniente de qualquer outra matéria-prima.

Segundo as investigadoras, o INETI só não produz ele próprio biodiesel porque não tem óleo suficiente e porque a produção industrial não é a sua vocação. "Neste momento, temos crescimento de diversas algas para óleo e óleos obtidos desse crescimento. Esse óleo já está caracterizado de acordo com tudo o que é necessário para fazer um bom biodiesel. Este passo - do óleo para o biodiesel - ainda não o fizemos com as algas mas estamos fartíssimos de o fazer com óleo de outras coisas", esclarece Fernanda Rosa.

Duplamente ecológico

Além de todas as vantagens que as microalgas parecem ter em comparação com as outras fontes de biocombustível, elas têm um efeito ecológico sem precedentes: consomem dióxido de carbono (CO2). Fazem o processo oposto dos seres humanos, que ingerem oxigénio e libertam dióxido de carbono. Por isso, são ideais para ter junto de indústrias poluentes, que libertem muito CO2.

"As algas são as maiores consumidoras de CO2. Nas refinarias, que são grandes poluidoras, faz todo o sentido que esse CO2 seja aproveitado para crescer algas", explica Luísa Gouveia.

Investir nas microalgas irá gerar, então, uma factura duplamente ecológica: servem para produzir um combustível amigo do ambiente e consomem o CO2 emitido pelas indústrias. Esse é aliás, o grande objectivo, diz Fernanda Rosa: "Ligar o crescimento de microalgas a empresas e indústrias fortemente poluidoras, porque o CO2 que as primeiras necessitam para crescer, as segundas têm até demais."

publicado por castromaisverde às 19:41
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